De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), ao redor do mundo, o número de pessoas com depressão ultrapassa os 350 milhões. As estatísticas mostram que entre 7-12% da população adulta têm transtornos mentais (depressão e/ou ansiedade) e precisa de algum tipo de tratamento (terapia farmacológica e/ou psicológica). Por exemplo, nos EUA, 26,2% da população adulta sofre de alguma doença mental grave e no continente Europeu a situação não é diferente, pois 27% dos adultos têm algum distúrbio mental. Na América do Sul este cenário não é diferente. Porém, há um fator agravante, em países em desenvolvimento, as condições socioeconômicas e a falta de acesso a serviços essenciais e básicos impactam de forma muito negativa a saúde física e mental e a qualidade de vida.
Esperava-se que a partir de 2020 a depressão fosse a principal causa de doenças nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. No entanto, a pandemia da COVID-19 veio para consolidar e acelerar esta situação de forma drástica e dramática. Dessa forma, mudanças de estilo de vida, por exemplo, a prática regular de atividade física pode ser uma alternativa complementar e de baixo custo quando somada à psicoterapia e terapia farmacológica.
A prática de atividade física está associada à redução da morbidade e mortalidade e inúmeros benefícios à saúde. No entanto, estudos da população norte-americana observaram que 60% dos adultos são fisicamente inativos ou irregularmente ativos. Além disso, 22% dos norte-americanos não se envolvem com atividade física durante o tempo de lazer. Aliás, as pessoas não têm tempo hábil para se envolver em atividades físicas pela forma que a vida pessoal e profissional está organizada atualmente.
De acordo com o Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM) e os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) apenas 33% dos adultos americanos alcançam os níveis mínimos recomendados de atividade física, ou seja, aquela de intensidade moderada na maioria ou de preferência todos os dias da semana. Além disso, poucos são os americanos suficientemente ativos para obter os benefícios mínimos para a saúde em decorrência da prática de atividade. É preciso destacar que são necessários estudos com a mesma característica na população do Brasil. Porém, foi observado que a proporção de adultos brasileiros que relataram pelo menos 150 minutos por semana de atividade física moderada a vigorosa aumentou de 22,7%, em 2013, para 30,1%, em 2019, o que representa um aumento de 33% na proporção de adultos ativos no lazer. De certa forma, isso é animador, mas a inatividade física ainda continua sendo uma pandemia mundial.
Nesse sentido, indivíduos com distúrbios mentais e doenças psiquiátricas constituem uma população em que a inatividade física pode contribuir para aumento da morbidade e mortalidade e dos gastos com saúde pública. Por exemplo, a depressão e ansiedade são causas prevalentes de doenças físicas, comprometimento psicossocial, suicídio e morte ao redor do mundo. Ambas as condições são quadros recorrentes ao longo da vida e que afetam milhões de pessoas, sem distinção de etnia, nível de educação, gênero ou renda. No entanto, apesar da disponibilidade de diferentes modalidades terapêuticas, muitos sujeitos com distúrbios mentais são tratados de forma inadequada.
A atividade física pode ser uma modalidade terapêutica complementar ao tratamento farmacológico e psicológico e para a prevenção de doenças psiquiátricas, como depressão e ansiedade. No entanto, ainda é pouco utilizada para tal finalidade. Já foi demonstrada associação entre a participação em programas de atividade física e a melhora da saúde mental. De fato, a prática de atividade física (uma única sessão) está associada com a melhora no estado de humor. Por outro lado, a atividade física pode comprometer a saúde mental, especialmente quando realizada de forma intensa e exagerada. Isto pode acontecer entre atletas de alto nível, ou mesmo amadores, que por fazerem um alto volume e intensidade de atividade física, podem desenvolver a síndrome de overtraining.
De forma geral, a atividade física contribui para a melhora da saúde mental de indivíduos de diferentes faixas etárias e pode desempenhar papel importante no tratamento de distúrbios mentais, em especial a depressão e ansiedade, se bem planejada e praticada com base em recomendações metodológicas. Os sintomas de ansiedade e ataques de pânico podem ser melhorados com o aprimoramento da aptidão física e com técnicas de meditação e relaxamento. Em geral, a ansiedade aguda responde melhor à atividade física do que a crônica. Os resultados de estudos suportam a ideia de que os envolvidos em atividade física regular têm um melhor status de saúde física e mental.
Dessa forma, a compreensão dos efeitos da atividade física sobre a saúde mental tem o potencial de influenciar, em vários aspectos, a prática diária dos profissionais da saúde, e auxiliar na prevenção e no tratamento de doenças psiquiátricas bem como na promoção da qualidade de vida e na condução de tratamentos e cuidados mais eficazes.