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Osteoporose e Exercício físico: Parte 3

Autor: Rodrigo Luiz Vancini

7) Cuidados e particularidades

Imagine a estrutura interna do osso como sendo a base de madeira de uma casa. O processo de osteoporose é semelhante ao que acontece durante uma infestação de cupins na fundação de uma casa. Em algum momento, tanta madeira é consumida que a resistência da fundação fica comprometida e ela começa a falhar. Isso não é diferente da progressão da osteoporose; com o tempo, a arquitetura interna do osso é corroída como resultado de vários fatores que eventualmente aumentam o risco de fratura (4). Fraturar um osso é uma complicação grave da osteoporose. As fraturas podem causar dor intensa, afetar a postura e a aparência e até ser mortais. Fraturas da coluna podem fazer com que uma pessoa perca altura e fique permanentemente curvada. Estima-se que 20% das pessoas que fraturam o quadril morrem dentro de um ano devido a complicações do osso quebrado ou da cirurgia para repará-lo. A maioria dos que sobrevivem a uma fratura de quadril nunca recuperam seu nível anterior de independência física (4).

Quando se fala na prevenção e tratamento da osteoporose e as consequentes fraturas é importante levar em consideração:

  1. A osteoporose progride lentamente, dessa forma as pessoas podem tomar várias medidas ao longo da vida para reduzir o risco de desenvolvê-la (4).
  2. As pessoas diagnosticadas com osteopenia/osteoporose devem ser monitoradas constantemente para garantir que a condição não piore (4).
  3. Para pessoas diagnosticadas com osteopenia ou osteoporose leve, um programa de exercícios físicos de baixa a moderada intensidade é recomendado para melhorar a massa óssea ou prevenir ou retardar a perda óssea. Para pessoas com osteoporose avançada ou que já tiveram uma fratura recente, esse tipo de programa pode ser muito rigoroso. Neste caso, consultar um médico especialista, é essencial para determinar o nível de atividade adequado (4).
  4. Fatores de risco que você não pode controlar: ser mulher; ter uma estrutura fina ou pequena; ser de idade avançada; ter histórico familiar de osteoporose; estar na pós-menopausa, incluindo menopausa precoce ou induzida cirurgicamente; ser homem com baixos níveis de testosterona; e ser caucasiano ou asiático (embora afro-americanos e hispânicos também possam estar em risco) (4).
  5. É importante que todos os programas de exercícios sejam acompanhados de suplementação de cálcio e vitamina D (5).
  6. Em geral, não há contraindicações com relação à prática de exercícios físicos. No caso de pacientes com diagnóstico de osteoporose, o programa de exercício físico deve incluir atividades que envolvam pouco risco de queda (3).
  7. A flexão da coluna com carga não é recomendada (5).
  8. Atividades de impacto podem exigir modificações na presença de osteoartrite ou fragilidade física (5).
  9. Caso a pessoas tenha sido diagnosticada com osteoporose, mesmo que ainda não tenha sofrido uma fratura, deve evitar atividades que exerçam grande estresse sobre o osso, como saltos ou exercícios de flexão profunda do tronco para a frente (por exemplo, remar, tocar os dedos dos pés e exercícios abdominais) (4).
  10. Um programa regular de caminhada rápida com subidas conforme tolerado, combinado com treinamento resistido para melhorar o equilíbrio e a força muscular, pode reduzir o risco de queda (4).
  11. Opções de exercícios podem ser limitadas para pessoas com osteoporose associada com dor intensa. Neste caso, exercícios aquáticos em piscina aquecida, os quais, embora não promovam impacto ósseo, podem melhorar a flexibilidade e fornecer algum fortalecimento muscular (4)
  12. A prática de exercício físico intenso e excessivo, como, por exemplo, no caso de atletas mulheres de alto rendimento, pode ter consequências negativas para saúde óssea, pois pode causar amenorreia secundária e perda de massa óssea e tornar as atletas estéreis (3).
  13. Fatores de risco que você pode controlar: aprimorar a ingesta de cálcio, vitamina D e proteína; ser estar fisicamente ativo; para de fumar, incluindo exposição ao fumo passivo; interromper uso excessivo de álcool (mais de três doses por dia); perda de períodos menstruais não relacionados à menopausa (amenorreia); e anorexia nervosa (transtorno alimentar caracterizado por baixo peso corporal) ou bulimia nervosa (purga de alimentos, que reduz a absorção de nutrientes vitais); e a presença de outras doenças crônicas, como doenças cardíacas, pressão alta ou colesterol alto, relacionadas a más escolhas de estilo de vida ou obesidade (4).
  14. Abolir o uso/abuso de cigarros e álcool, pois influenciam na absorção de nutrientes essenciais (4).
  15. Avaliação médica do custo vs. benefício de terapia de reposição hormonal, no caso das mulheres estrogênio e dos homens testosterona. Por exemplo, perto ou no início da menopausa, geralmente por volta dos 50 anos, as mulheres produzem menos estrogênio. Essa diminuição da produção de estrogênio pode causar perda de massa óssea de duas a cinco vezes mais rapidamente do que a perda de massa óssea como resultado do processo normal de envelhecimento e idade (4).
  16. É recomendado que os seguintes perfis de pessoas façam o exame de DEXA: mulheres com 65 anos ou mais, homens com 70 anos ou mais, qualquer pessoa que frature um osso após os 50 anos de idade, mulheres pós-menopáusicas mais jovens com fatores de risco, mulheres na pós-menopausa com menos de 65 anos com fatores de risco, homens de 50 a 69 anos com fatores de risco, mulheres com deficiência de estrogênio com risco clínico de osteoporose, pessoas com anormalidades vertebrais, pessoas que fazem terapia de longo prazo com glicocorticóides (esteróides), pessoas com hiperparatireoidismo primário e pessoas sendo monitoradas para avaliar a resposta ou eficácia de uma terapia medicamentosa aprovada para osteoporose (4).
  17. Porque ingerir cálcio na dieta em quantidades adequadas ou suplementar, se for necessário? O cálcio é um mineral chave para a saúde óssea e sua absorção, advinda do consumo de alimentos pela dieta, pelos ossos diminui com a idade. Assim, as recomendações dietéticas de cálcio aumentam com a idade. É vital que as crianças em crescimento recebam o máximo de cálcio possível em suas dietas, pois isso pode fazer uma grande diferença na saúde óssea quando adultas. No caso de adultos, a ingestão de cálcio nos níveis recomendados ou acima não pode aumentar a DMO, mas é muito importante na prevenção da perda óssea ao longo do tempo. A ingestão excessiva de cálcio, por outro lado, pode contribuir para a formação de cálculos renais em certas pessoas. Deve-se evitar ingerir mais de 2.500 miligramas por dia. Produtos lácteos como leite, iogurte e queijo são ricos em cálcio (4).
  18. A vitamina D é um nutriente importante para a saúde óssea, pois ajuda ao corpo a absorver/armazenar cálcio. Baixos níveis de vitamina D estão relacionados à baixa DMO e aumento do risco de fraturas. A ingestão diária recomendada de vitamina D é de 600-800 unidades internacionais (UI) para adultos dependendo do perfil da população e idade. A vitamina D pode (deve) ser obtida através da alimentação adequada e da exposição à luz solar. A eventual suplementação de vitamina D deve ser avaliada por profissional da saúde especializado. Os alimentos ricos em vitamina D incluem ovos, peixes gordurosos, cereais e leite enriquecido com vitamina D. A vitamina D às vezes é chamada de vitamina do sol porque quando os raios UV solares entram em contato com a pele, a vitamina D é formada. A exposição mínima ao sol (nos pés, mãos e rosto) de cerca de 15 a 20 minutos por dia geralmente é suficiente para obter a maior parte da vitamina D diária necessária, embora essa capacidade diminua com a idade. O protetor solar pode reduzir a síntese de vitamina D pela pele, e deficiências também podem ocorrer naqueles que estão confinados em casa ou a leito e residem em latitudes extremas ao Norte (4).
  19. A proteína constitui cerca de metade do volume do osso e um terço da sua massa e ajuda a equilibrar os hormônios e melhora a absorção de cálcio dos alimentos. Dietas muito ricas em proteínas podem fazer com que muito cálcio seja perdido na urina, mas dietas muito baixas em proteínas prejudicam a capacidade do corpo de crescer e reparar os ossos. A maioria das pessoas idosas não consome proteína suficiente na dieta e deve aumentar sua ingestão (via alimentação e/ou suplementação) para os níveis recomendados para aprimorar a saúde muscular e óssea. Aumentar o consumo de proteína junto com frutas e vegetais na dieta é a melhor abordagem para manter a perda de cálcio no mínimo. As necessidades de ingestão de proteínas são baseadas no peso corporal de uma pessoa devido à grande variação na massa magra com base no tamanho corporal. As necessidades de proteína na dieta para adultos com 18 anos ou mais é 0,80 g/kg/dia (4).
  20. Quais estratégias podem ser usadas em casa para evitar quedas? Use sapatos de salto baixo de apoio em vez de andar de meias ou chinelos. Certifique-se de que os cômodos estejam bem iluminados. Use um tapete de borracha no chuveiro ou na banheira. Use os corrimãos ao subir e descer escadas. Evite o uso de tapetes pela casa, mas se você os tiver, use um suporte antiderrapante e prenda os cantos no chão ou no carpete embaixo. Mantenha pisos e passarelas livres de objetos e passagem obstruída. Mantenha o telefone e os cabos elétricos fora do caminho. Se necessário, mantenha os óculos à mão em vez de se movimentar com baixa acuidade visual. Perceba a influência negativa dos potenciais efeitos colaterais de medicamentos no equilíbrio postural e converse com seu médico sobre quaisquer medicamentos que esteja tomando. Considere o fato de que algumas fraturas de quadril ocorrem como resultado de tropeçar em pequenos animais de estimação. Algumas formas não tradicionais de exercício físico (como o tai chi e yoga) podem auxiliar na redução do risco de quedas, sugerindo que tanto a força muscular quanto a capacidade de transferir peso em movimento pode manter a estabilidade postural (4). É preciso destacar que em fraturas osteoporóticas, em algumas situações, “não se sabe se a queda causou a fratura ou a fratura causou a queda”.
  21. Consultar um médico endocrinologista/nutrólogo e nutricionista para ajustar e individualizar a ingestão correta de cálcio, vitamina D e proteínas na dieta ou a necessidade de suplementação.
  22. Consultar um profissional de educação física e fisioterapeuta para a definição do programa de reabilitação física e condicionamento físico mais adequado para o problema.
  23. Discuta com seu médico todos os procedimentos a serem usados para determinar as melhores condutas de tratamento e assim atingir os melhores desfechos em saúde.

8) Conclusões

Com o envelhecimento populacional do Brasil e do mundo, doenças crônicas como a osteoporose se tornarão cada vez mais prevalentes. Mulheres na pós-menopausa e aquelas jovens com baixos níveis de estrogênio circulante, devido a irregularidades menstruais, estão em maior risco de apresentar baixa DMO, o que pode aumentar a incidência de osteoporose com eventuais fraturas no futuro.

A relação entre amenorreia, osteoporose e baixa ingesta calórica chamada de “tríade da atleta feminina” é um outro problema a ser considerado. Dessa forma, é recomendado que todos os profissionais que trabalham com meninas e mulheres fisicamente ativas sejam orientados sobre a “tríade da atleta feminina” e desenvolvam planos de prevenção, reconhecimento, tratamento e redução de risco. A recomendação é que que qualquer aluna-atleta que apresente qualquer um dos componentes da tríade seja examinada e passe por avaliação médica.

Por fim, a osteoporose e as fraturas por fragilidade relacionadas são um problema de saúde pública global em que os agentes farmacêuticos direcionados ao aumento da DMO são a primeira linha de tratamento. No entanto, a terapia farmacológica não tem efeito na melhora de outros fatores de risco de fraturas, incluindo baixa força muscular, potência e capacidade funcional, todos associados a um risco aumentado de quedas e fraturas, independentemente da DMO. No entanto, a prática de atividade física provavelmente desempenha um papel na prevenção da osteoporose de forma individual se somada ao tratamento farmacológico. Programas de atividade física com uma relação dose-resposta mais alta e aqueles que envolvem exercícios resistidos parecem ser mais eficazes.

9) Referências

  1. Edwards MH, Dennison EM, Aihie Sayer A, Fielding R, Cooper C. Osteoporosis and sarcopenia in older age. Bone [Internet]. 2015 Nov;80:126–30. Available from: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S8756328215001295
  2. Lorentzon M, Cummings SR. Osteoporosis: the evolution of a diagnosis. Journal of Internal Medicine [Internet]. 2015 Jun;277(6):650–61. Available from: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/joim.12369
  3. Pedersen BK, Saltin B. Exercise as medicine – evidence for prescribing exercise as therapy in 26 different chronic diseases. Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports [Internet]. 2015 Dec;25:1–72. Available from: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/sms.12581
  4. American College of Sports Medicine; Barbara Bushman. Osteoporosis and Bone Health. In: ACSM’s Complete Guide to Fitness & Health. 2nd ed. Human Kinetics Publishers Inc.; 2017.
  5. Beck BR, Daly RM, Singh MAF, Taaffe DR. Exercise and Sports Science Australia (ESSA) position statement on exercise prescription for the prevention and management of osteoporosis. Journal of Science and Medicine in Sport [Internet]. 2017 May;20(5):438–45. Available from: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S1440244016302171
  6. Lane NE. Epidemiology, etiology, and diagnosis of osteoporosis. American Journal of Obstetrics and Gynecology [Internet]. 2006 Feb;194(2):S3–11. Available from: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0002937805013700
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  13. World Health Organization (WHO). Global recommendations on physical activity for health [Internet]. Geneva; 2010. Available from: https://www.who.int/dietphysicalactivity/global-PA-recs-2010.pdf
  14. Piercy KL, Troiano RP. Physical Activity Guidelines for Americans From the US Department of Health and Human Services. Circulation: Cardiovascular Quality and Outcomes [Internet]. 2018 Nov;11(11). Available from: https://www.ahajournals.org/doi/10.1161/CIRCOUTCOMES.118.005263

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