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Fisiologia Integrada Aplicada ao Exercício Físico: da Saúde à Doença

A fisiologia passa por muitos níveis de organização em diferentes sistemas orgânicos/fisiológicos. Por exemplo, dos sistemas muscular, respiratório e cardiovascular. Um aspecto chave para o pensamento crítico na fisiologia é a capacidade de reconhecer padrões de respostas e/ou adaptações. Os fisiologistas querem entender como os eventos numa única célula influenciam as células vizinhas, tecidos, órgãos e sistemas fisiológicos inteiros no organismo. A explicação sobre o que ocorre em tubos de ensaio ou células isoladas responde somente de forma parcial às questões sobre como o corpo inteiro funciona frente a um determinado estímulo.

A fisiologia precisa ser vista como uma ciência integrativa que estuda como os diferentes sistemas do organismo coordenam as suas ações como um todo dentro de um continuum fisiológico. Um dos conceitos chaves da fisiologia é a homeostase que é a resposta coordenada do corpo à mudança de modo a manter a estabilidade interna quando o organismo é exposto a diferentes estímulos do meio ambiente. Um dos desafios mais comuns para a homeostase corporal não é a doença, mas sim as atividades físicas da vida diária que precisamos realizar. Realizar atividades físicas diárias deveria ser uma condição fisiológica normal muito mais do que patológica, no entanto, a condição de realizar atividades físicas diárias é afetada pela presença de doenças e se realizada de forma excessiva pode resultar em lesão e agravos à saúde.

Quando se fala em fisiologia integrada, seja do ponto de vista geral ou aplicada atividade física, o que se almeja entender é como os diferentes tipos estímulo podem causar respostas e adaptações fisiológicas no organismo humano nos diferentes sistemas fisiológicos. Neste contexto, é importante discorrer sobre o que é atividade física. A atividade física é definida como qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos que resultem em gasto de energia. O gasto energético pode ser medido em quilocalorias. Aqueles que praticam atividades físicas aprimoram a sua aptidão física relacionada à saúde e/ou ao desempenho físico/esportivo. Dentre os componentes da aptidão física relacionada à saúde e desempenho esportivo podemos citar, a força muscular, a resistência cardiorrespiratória, a flexibilidade e a composição corporal.

As atividades físicas vêm sendo monitoradas se utilizando uma ampla variedade de métodos: calorimetria – métodos usados para calcular a frequência e a quantidade de gasto energético quando o corpo está em repouso ou durante o esforço físico; marcadores fisiológicos – monitoramento da frequência cardíaca e consumo de oxigênio; detectores mecânicos e eletrônicos do movimento – pedômetros, contadores de passos, sensores eletrônicos de movimentos e acelerômetro; e instrumentos para levantamento do nível atividade física: recordatórios/registros diários e questionários que visem avaliar os níveis de atividade física nos seus diferentes componentes (laboral, esportivo e de lazer).

Um dos objetivos da prática de atividade física é a melhora da aptidão física relacionada à saúde e desempenho físico. Nesse sentido, a aptidão física pode ser definida como um conjunto de atributos que as pessoas possuem ou adquirem que está associado à capacidade de realizar atividades do cotidiano com vigor e energia e demonstrar traços associados a um baixo risco do desenvolvimento de doenças crônico degenerativas. Outro termo comumente associado com a aptidão física é o condicionamento físico que é o conjunto de atributos que um indivíduo possui ou alcança relacionado à capacidade de executar atividades físicas.

Dentre os componentes da aptidão física podemos citar:

-Resistência cardiorrespiratória ou condicionamento cardiovascular – é o componente do condicionamento físico relacionado à saúde que envolve a capacidade dos sistemas respiratório e circulatório de suprir de oxigênio durante a atividade física prolongada os músculos em atividade;

-Força muscular (e suas manifestações força máxima, potência e resistência de força) – definida como a capacidade do músculo em exercer tensão;

-Flexibilidade – é o componente do condicionamento físico que envolve a amplitude do movimento presente em uma articulação. Pode ser aprimorada pela execução de exercícios de alongamento;

-Composição corporal – componente do condicionamento físico ligado aos percentuais relativos de músculo, gordura, ossos e outros tecidos vitais para o funcionamento do organismo.

De forma mais aprofundada, é importante destacar que o condicionamento músculo esquelético possui 3 componentes: flexibilidade, força muscular e resistência muscular. A flexibilidade é a capacidade funcional das articulações de se moverem por uma amplitude máxima de movimento sendo específica para cada articulação do corpo. Os músculos, ligamentos e tendões determinam em grande medida a quantidade de movimento possível em cada articulação. A força muscular está relacionada à capacidade dos músculos em exercer tensão. Em outras palavras ela é a força obtida em um esforço máximo capaz de ser exercida contra uma resistência ou a quantidade máxima de força que pode ser gerada em um movimento isolado de um único grupo muscular. Quanto mais forte o indivíduo maior será a quantidade de força que pode ser gerada. Levantar cargas pesadas de forma máxima uma ou 2 vezes ou exercer força máxima ao apertar um dinamômetro manual fornece mensurações da força muscular. A resistência muscular está relacionada à capacidade do músculo de continuar a executar movimentos sem fadiga. Em outras palavras é a capacidade dos músculos de aplicar repetidamente uma força submáxima ou de manter uma contração muscular em um período determinado. Exercícios típicos de resistência muscular são abdominais, flexões de braço, flexões na barra ou levantar pesos sucessivamente por mais de 15 a 20 movimentos.

Quando se fala na saúde, a definição mais famosa e indubitavelmente ainda mais influente é a da Organização Mundial da Saúde, ou seja, um estado de completo bem-estar físico mental e social e não a mera ausência de doenças. A saúde possui 3 dimensões mental, física e social. Cada indivíduo é uma complexa combinação desses fatores que interagem e são dependentes entre si. Quando uma dessas dimensões é negligenciada ou enfatizada de maneira excessiva ocorre uma influência negativa sobre as demais áreas. A saúde mental refere-se tanto à ausência de disfunções mentais, por exemplo, depressão e ansiedade como a capacidade do indivíduo em lidar com os desafios sociais diários da vida sem sofrer problemas comportamentais emocionais ou mentais. Já a saúde física é definida como ausência de doença física, por exemplo, cardíacas prematuras ou câncer. Ao mesmo tempo a pessoa possui energia e disposição para executar atividades físicas de níveis moderados a intensos sem fadiga excessiva e capacidade de manter essa habilidade ao longo da vida. Essa energia e disposição são obtidas seguindo-se diferentes hábitos saudáveis como horas de sono, dieta saudável e atividades físicas regulares bem como baixos níveis de gordura corporal e bom tônus muscular.

Nosso estilo de vida vem mudando drasticamente desde que os nossos ancestrais humanos formavam grupos de caçadores/coletores, mas nosso corpo e metabolismo ainda parece trabalhar melhor com um certo nível de atividade física. Muitas condições de doenças comuns incluindo hipertensão, acidente vascular cerebral e diabetes mellitus podem ser melhoradas pela prática diária e sistemática de atividade física e geradas pela inatividade física. Mesmo assim a aquisição de hábitos saudáveis e a mudança do estilo de vida é uma mudança é bem difícil de ser realizada. Por exemplo, a prática de atividade física diminui o risco de doenças cardiovasculares e diabetes mellitus tipo 2. Os estudos clássicos demonstraram que pessoas fisicamente ativas tinham uma taxa de ataques cardíacos menor do que aquelas com um estilo de vida sedentário. Estes estudos originaram muitas investigações para determinação da relação entre doença cardiovascular e a prática de atividade física. Foi demonstrado que a prática /de atividade física incluía benefícios como diminuição da pressão arterial, das concentrações de triglicerídeos plasmáticos e aumento da concentração de HDL plasmática. A hipertensão é fator de risco importante para o acidente vascular cerebral enquanto as concentrações elevadas de LDL e triglicerídeos estão associadas ao desenvolvimento de aterosclerose e aumento do risco de ataque cardíaco. A prática de atividade física reduz as morbidades e a mortalidade ou mesmo a gravidade para uma série de doenças cardiovasculares. Mesmo o exercício leve como uma caminhada tem benefícios significativos para a saúde e pode ajudar muitas pessoas ao redor do mundo que possuem um estilo de vida sedentário e risco para doenças cardiovasculares bem como diminuir complicações associadas à obesidade e ao diabetes mellitus tipo 2 a terem uma melhor qualidade de vida e estado de saúde.

Um exemplo bastante interessante de fisiologia integrada no que tange a prática de atividade física é a melhora da prevenção e prognóstico de pacientes com diabetes mellitus tipo 2. A atividade física crônica ajuda a células musculares (sistema muscular) a regularem melhor o número de transportadores de glicose bem como o número de receptores de insulina em suas membranas celulares (sistema endócrino). O número de transportadores de glicose diminui a dependência muscular de insulina para captar glicose. Aumentando o número de receptores de insulina as células tornam-se mais sensíveis à ação da insulina. Uma pequena quantidade de insulina pode ativar uma resposta que previamente exigiria mais insulina. Como as células estão respondendo à concentração de insulina menores o pâncreas (sistema endócrino) secreta menos insulina e isto diminui o nível de estresse no pâncreas resultando em uma menor incidência de diabetes mellitus do tipo 2. Por tudo o que foi exposto veja só o quanto a prática de atividade física pode influenciar de forma positiva no funcionamento do organismo impactando positivamente os diferentes sistemas fisiológicos através de respostas e adaptações integradas seja na saúde ou na doença.

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