A doença de Alzheimer (DA) representa um desafio significativo para qualidade do estado de saúde durante o processo de envelhecimento em qualquer país do mundo. Devido aos avanços médicos, a expectativa de vida só tem aumentado. Por exemplo, até o ano de 2030, estima-se que mais de 20% dos residentes nos EUA terão mais de 65 anos. O Brasil vai pelo mesmo caminho. O avanço da idade está relacionado a um risco aumentado de demência. A DA é a causa mais comum de demência, representando cerca de 60% a 80% dos casos. O processo de envelhecimento per si também é o maior fator de risco para o desenvolvimento de DA. Por exemplo, aproximadamente 81% das pessoas que têm DA têm 75 anos ou mais. O impacto da DA na população é significativo. Registros oficiais indicam um aumento de 71% nas mortes por DA de 2000 a 2013 nos EUA. Isso é comparado com uma diminuição de 14% das mortes por doenças cardíacas no mesmo período de tempo. A DA subiu da 25ª doença mais onerosa nos EUA para a 12ª em um período de 10 anos e um aumento do 32º para o 9º pior em relação aos anos de vida perdidos. Este foi o maior aumento para qualquer doença nesse intervalo de tempo. Mas como o cérebro pode ser afetado neste processo?
O cérebro é submetido a múltiplos fatores que resultam em danos no decorrer da vida. No entanto, tem notável capacidade de reparar esses danos e de se adaptar ou compensar a perda de neurônios. O envelhecimento cerebral é determinado pelo balanço entre lesão e reparo neuronal. Esse balanço pode ser afetado não apenas por fatores genéticos e relacionados à idade, mas também por fatores ambientais. Este último inclui a educação continuada, a nutrição adequada, o exercício físico regular, a socialização e a redução do estresse emocional. Como indivíduos, temos o potencial de modificar esses fatores através de escolhas adequadas no decorrer de nosso processo de envelhecimento.
É importante destacar que o processo de ENVELHECIMENTO per si aumenta a prevalência e incidência de distúrbios neurodegenerativos como a DA. Em geral, associada também com a depressão. Há crescentes evidências do impacto positivo do exercício físico na diminuição da incidência da DA durante o processo de envelhecimento.
A DA é uma doença neurodegenerativa progressiva que prejudica a memória e a capacidade de julgamento cognitivo sendo a principal causa de demência no final da vida adulta e estando associada a uma significativa carga social e aumento da morbidade e mortalidade em pessoas idosas. Os sintomas da DA variam entre os indivíduos, mas a apresentação mais comum é uma capacidade de se lembrar de novas informações que piora insidiosamente. À medida que os neurônios em outras partes do cérebro funcionam mal e morrem, outros sintomas se desenvolvem, incluindo perda de memória mais grave que pode afetar a realização das atividades da vida diária (AVDs), dificuldades na resolução de problemas, perda de autonomia e independência e orientação e relações espaciais visuais prejudicadas. Eventualmente, problemas neuropsiquiátricos, como alterações de humor e personalidade, podem ocorrer. O grau deste declínio é diferente de pessoa para pessoa.
O exercício físico tem sido considerado uma alternativa que somada ao tratamento medicamentoso pode ajudar no tratamento da DA pré-clínica, DA em estágio avançado e como estratégia de prevenção. O exercício físico parece melhorar o fluxo sanguíneo cerebral, aumentar o volume do hipocampo e melhorar a neurogênese. Estudos prospectivos indicam que a inatividade física é um dos fatores de risco evitáveis mais comuns para o desenvolvimento de DA e que níveis mais elevados de atividade física estão associados a um risco reduzido de desenvolvimento da doença. O exercício físico como tratamento para a DA mostra melhora na função cognitiva e no fluxo sanguíneo cerebral, diminuição dos sintomas neuropsiquiátricos e declínio mais lento na capacidade de realização das AVDs. O exercício físico demonstrou ter menos efeitos colaterais e melhor adesão em comparação com os medicamentos. Por exemplo, o fluxo sanguíneo cerebral é afetado negativamente com o avançar da idade e está associado com a piora da cognição. O exercício físico de intensidade moderada resulta em aumento agudo do fluxo sanguíneo para o cérebro. O que é bom.
Outro ponto a destacar é que os circuitos hipocampais também são considerados muito importantes para a memória episódica e são afetados no início da DA. Acredita-se que grandes volumes hipocampais estejam associados a um melhor funcionamento cognitivo. O exercício físico leve a moderado durante um período de 1 ano parece prevenir a atrofia do volume do hipocampo. As alterações positivas do volume do hipocampo também foram correlacionadas com a melhora da aptidão cardiovascular. O treinamento físico melhora o desempenho cognitivo e está associado ao aumento dos volumes hipocampais em humanos.
COMO O EXERCÍCIO FÍSICO AJUDA DE FORMA GERAL? A relação entre exercício físico e saúde mental tem sido amplamente investigada, e várias hipóteses têm sido formuladas a respeito. Especificamente, durante o processo de envelhecimento, o exercício físico pode representar um potencial tratamento adjuvante para distúrbios neuropsiquiátricos e comprometimento cognitivo, ajudando a retardar o aparecimento de processos neurodegenerativos – como a DA – diminuindo o nível de estresse emocional ao longo da vida, melhorando o funcionamento do sistema imune, melhorando a defesa antioxidante e aumentando a angiogênese e neurogênese.
Sugestão de leitura: Cass SP. Alzheimer’s Disease and Exercise: A Literature Review. Curr Sports Med Rep. 2017 Jan/Feb;16(1):19-22.