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Como a prática de atividade física pode ajudar no desenvolvimento sustentável com foco na saúde e bem-estar?

Neste artigo abordamos a relação entre saúde e bem-estar e os níveis de atividade física. Esta relação é feita sob a ótica dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), propostos pela Organização das Nações Unidades (ONU). Particularmente, nosso foco será o ODS (meta) 03, ou seja, “Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades.

Os ODS são um conjunto de metas globais adotados pela Assembleia Geral da ONU em 2015. Os ODS, são metas, que visam acabar com a pobreza, proteger o planeta e garantir a paz e a prosperidade e inclusão social para todos até 2030. Cada objetivo tem indicadores específicos que são projetados para avaliar o progresso da agenda.

Os 17 eixos de Desenvolvimento Sustentável são:

01 – Erradicação da pobreza; 02 – Fome zero e agricultura sustentável; 03 – Saúde e bem-estar; 04 – Educação de qualidade; 05 – Igualdade de gênero; 06 – Água limpa e saneamento; 07 – Energia limpa e acessível; 08 – Trabalho decente e crescimento econômico; 09 – Inovação infraestrutura; 10 – Redução das desigualdades; 11 – Cidades e comunidades sustentáveis; 12 – Consumo e produção responsáveis; 13 – Ação contra a mudança global do clima; 14 – Vida na água; 15 – Vida terrestre; 16 – Paz, justiça e instituições eficazes; e 17 – Parcerias e meios de implementação

É preciso destacar que quanto ao ODS 3, algumas metas específicas são:

  1. Até 2030, reduzir em um terço a mortalidade prematura por doenças não transmissíveis via prevenção e tratamento, e promover a saúde mental e o bem-estar.
  2. Reforçar a prevenção e o tratamento do abuso de substâncias, incluindo o abuso de drogas entorpecentes e uso nocivo do álcool.
  3. A meta da ONU é, até 2030, atingir a cobertura universal de saúde, incluindo a proteção do risco financeiro, o acesso a serviços de saúde essenciais de qualidade e o acesso a medicamentos e vacinas essenciais seguros, eficazes, de qualidade e a preços acessíveis para todos. No Brasil a meta é, até 2030, assegurar, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), a cobertura universal de saúde, o acesso a serviços essenciais de saúde de qualidade em todos os níveis de atenção e o acesso a medicamentos e vacinas essenciais seguros, eficazes e de qualidade que estejam incorporados ao rol de produtos oferecidos pelo SUS.

Depois de posto o cenário, é preciso destacar que a prática de atividade física está ligada a alguns dos ODS, principalmente aqueles relacionados à saúde, educação e cidades sustentáveis. Aqui estão alguns exemplos de como a atividade física se relaciona com os ODS (principalmente com o ODS 3, 4 e 11):

A atividade física regular traz inúmeros benefícios à saúde, incluindo a redução do risco de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como doenças cardíacas, acidente vascular cerebral (popularmente conhecido como derrame), diabetes e câncer. O aumento dos níveis de atividade física – que segue uma relação dose-resposta para a qual precisa ser trabalhado intensidade, volume e frequência do tipo de atividade escolhida; pode contribuir para atingir a meta de reduzir a mortalidade prematura por DCNT em um terço até 2030. Por exemplo, já foi observado que a prática de atividades físicas de fortalecimento muscular é inversamente associada ao risco de mortalidade por todas as causas e principais DCNT, incluindo as doenças cardiovasculares, alguns tipos de câncer e diabetes. Além disso, a combinação de exercícios de fortalecimento muscular com atividades aeróbias pode otimizar a redução de mortalidade por todas as causas, doenças cardiovasculares e câncer.

Outro ponto a destacar é que as tendências atuais no estudo da atividade física e na outra ponta da inatividade física merecem atenção já que pode haver um limiar de risco potencial para a saúde, relacionado ao balanço entre o nível de atividade física e/ou inatividade física diário. Por um lado, existe uma quantidade ideal de tempo gasto em atividades físicas para promover efeitos favoráveis à saúde bem como uma quantidade ideal de tempo gasto em comportamento sedentário, além do qual o desenvolvimento de DCNT é mais provável. A mensagem clara é que não basta ser fisicamente ativo, mas também é preciso evitar muito tempo gasto em comportamentos sedentários (o tempo gasto em telas é sem dúvida o principal problema). Uma compreensão fisiológica mais completa das implicações para a saúde do continuum da atividade física é urgentemente necessária. Tanto a inatividade física quanto o comportamento sedentário contribuem para as DCNT. Tem sido proposto que futuros desenhos de investigação devem tentar incluir exemplos tanto de condições sedentárias quanto de condições fisicamente inativas, a fim de estabelecer uma perspectiva global sobre a contribuição específica de cada uma para o aparecimento das DCNT. Para atingir esse objetivo, os métodos devem incluir ferramentas de medição. Medições objetivas, como acelerômetros, fornecem informações mais precisas sobre os padrões de atividade física, reduzindo assim o erro de medição. No entanto, medições objetivas não podem explicar o domínio específico do comportamento sedentário, como assistir televisão, jogar videogame ou estar sentado no trabalho. Portanto, uma avaliação global precisa incorporar dados de autorrelato de indivíduos, ou seja, medições subjetivas também. É preciso focar no uso apropriado desses métodos de avaliação para obter uma melhor compreensão do impacto do comportamento sedentário e da inatividade física na saúde da população global. Isso é necessário porque o comportamento sedentário e a inatividade física representam duas condições diferentes com mecanismos biológicos subjacentes únicos. O principal interesse dos estudos de pesquisa tem sido centrado nos benefícios positivos do exercício físico para a saúde como um medicamento padrão-ouro. Uma melhor compreensão dos efeitos prejudiciais da inatividade física e dos comportamentos sedentários também pode ajudar na promoção de resultados positivos para a saúde.

No contexto das DCNT o que já é conhecido? As diretrizes de atividade física recomendam atividades regulares de fortalecimento muscular para adultos, e essa recomendação é baseada principalmente nos benefícios para a saúde musculoesquelética. Revisões anteriores mostraram que as atividades de fortalecimento muscular estão associadas a um risco menor, especificadamente, de câncer renal. Adicionalmente, a redução máxima do risco de mortalidade por todas as causas, doenças cardiovasculares e câncer foi obtida em aproximadamente 30-60 min/semana de atividades de fortalecimento muscular, e o risco de diabetes diminuiu acentuadamente até 60 min/semana de atividades de fortalecimento muscular. Porém, é preciso conhecer mais sobre a relação dose-resposta ideal (intensidade, frequência e volume) de atividades de fortalecimento muscular de forma geral e particular para cada DCNT.

Além disso, a atividade física pode melhorar o desempenho acadêmico, a concentração e a função cognitiva, principalmente em crianças e adolescentes. Ao incorporar a atividade física nas escolas e nos programas educacionais, com uma estratégia com foco em promoção e educação em saúde, podemos ajudar a atingir a meta de oferecer educação de qualidade inclusiva e equitativa para todos. Já foi observado que existe associação positiva entre a prática de atividade física, condicionamento físico, cognição e desempenho acadêmico e escolar. Com base nas evidências disponíveis, é possível afirmar que a atividade física tem uma influência positiva na cognição, bem como na estrutura e função cerebral e consequentemente na aprendizagem e aquisição de conhecimento.

No contexto do efeito da atividade física na melhoria do desempenho acadêmico na escola, a visão da Organização Mundial da Saúde (OMS) é bem interessante. De acordo com estudo feito pela OMS, a atividade física regular, o aumento do espaço para as aulas de educação física e as salas de aula mais interativas e ativas não apenas protegem a saúde dos alunos, mas também melhoram seu desempenho acadêmico. Atualmente, crianças e adolescentes de 5 a 17 anos, passam quase dois terços do tempo na escola em atividades sedentárias e apenas 5% do tempo escolar fazendo atividades físicas. Sendo assim, aumentar a quantidade de atividade física pode ter um impacto positivo não só na saúde e no bem-estar das crianças, mas também no seu desempenho na sala de aula. Já foi demonstrado que a atividade física é benéfica para o desenvolvimento de habilidades cognitivas, motoras e sociais, bem como para uma boa saúde metabólica e musculoesquelética.

As escolas oferecem a oportunidade perfeita para as crianças atingirem os níveis recomendados de atividade física diária. A tendência, porém, é que cada vez mais as atividades e aulas enfatizem os comportamentos sedentários, e o desejo de bons resultados nas provas nas disciplinas acadêmicas tem desviado a ênfase da educação física e das atividades esportivas na escola. Mas os dois podem andar de mãos dadas. A abordagem escolar tradicional tem sido dentro de casa e na escola para aprender e ao ar livre para brincar, mas os sistemas educacionais em todo o mundo estão despertando para o impacto do ar livre na aprendizagem. Quando as crianças estão brincando ao ar livre, elas têm um tempo de aprendizado autodirigido. Dentro de casa e da sala de aula, as crianças estão aprendendo, mas tudo é dirigido pelo professor. Ao ar livre, é autodirigido e isso por si só está preparando as crianças para quando tiverem que se sentar e se concentrar em outra coisa.

No entanto, é difícil mensurar o impacto direto da atividade física no desempenho acadêmico de qualquer criança, pois pode ser influenciado por muitos fatores diferentes como, por exemplo, fisiológicos, cognitivos, sociais e ambientais. Mas as evidências são convincentes e fornecem um caminho a seguir para que os gestores escolares tomem medidas positivas. É vital que as crianças façam mais atividade física, independentemente do efeito sobre o desempenho acadêmico, o que, de qualquer forma, vem como um bônus com maior ênfase na educação física escolar. Porém, o desempenho acadêmico provavelmente melhora com o aumento do tempo em educação física, uma mudança de atividades sentadas para salas de aula mais ativas e atividade física regular – como caminhada, dança e esportes – durante a semana. Para isso acontecer é preciso a capacitação de professores na promoção da atividade física, criação de espaços, materiais e recursos adequados, incentivo à inovação e parcerias com organizações comunitárias.

Outro fator importante é fornecer um ambiente seguro para o deslocamento ativo, em vez de ir de carro para a escola ou usar o transporte público. É preciso simplesmente permitir e criar condições para que as crianças se comportem de acordo com sua própria natureza e escolhas, desde que sejam seguras é claro. As crianças, em geral, raramente caminham para qualquer lugar. Em vez disso, eles saltam, pulam, correm e combinam movimentos, muitas vezes com os braços girando de forma irregular. Quando as crianças estão engajadas no aprendizado autodirigido e num espaço que permita o movimento, observe que elas estarão sempre se movendo. É fato que a atividade física está incutida na natureza das crianças. Tentar separá-lo do desenvolvimento acadêmico é inútil; os dois podem e devem ser ligados. À medida que os benefícios gerais da atividade física se tornam cada vez mais aceitos, novas formas de atingir os níveis recomendados pela OMS estão sendo testados no mundo.

Por exemplo, aproveitando o poder dos modelos para as crianças, no Reino Unido estão considerando um esquema para estender a jornada escolar em duas horas. Apoiada por grandes atletas britânicos, a proposta garantiria que o tempo extra na escola fosse gasto em esportes, teatro, dança e outras atividades. Entre as iniciativas, algumas seguem as recomendações da OMS, com parceria com a comunidade e engajamento com os jovens nas redes sociais, a bandeira da promoção de um futuro mais saudável e ativo fisicamente para as crianças, de mãos dadas com o tempo de aprendizagem na escola, pode ganhar força.

Também, a promoção da atividade física por meio de transporte ativo (caminhada, ciclismo etc.) e a criação de espaços acessíveis, seguros e verdes para a prática de atividade física podem contribuir para a criação de cidades mais sustentáveis e habitáveis. Isso pode ajudar a atingir a meta de tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. As evidências sugerem uma relação causal entre o ambiente construído e os comportamentos de atividade física das pessoas, particularmente o transporte ativo. No entanto, criar um ambiente seguro para que isso aconteça é muito custoso do ponto de vista socioeconômico. Melhorar a capacidade de caminhar no bairro, a qualidade dos parques/playgrounds/áreas de lazer e fornecer infraestrutura de transporte ativo adequada provavelmente gerará impactos positivos no nível de atividade física de crianças e adultos.

No geral, a promoção da atividade física pode contribuir para alcançar vários dos ODS, particularmente aqueles relacionados à saúde, educação e cidades sustentáveis.

Fontes:

https://www.ipea.gov.br/ods/ods3.html

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC9209691/

https://www.who.int/europe/news/item/17-02-2021-who-reviews-effect-of-physical-activity-on-enhancing-academic-achievement-at-school

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