A pandemia de COVID-19 teve um impacto significativo na qualidade de vida (QV) das pessoas, independentemente da idade. O isolamento social, a incerteza econômica, o medo da infecção e a perda de entes queridos afetaram a saúde mental e física das pessoas. Como resultado, houve um aumento na demanda por serviços de saúde, tanto em emergências quanto em atendimento clínico. Com a legalização e disseminação do telecuidado em saúde, houve um aumento na criação/uso de serviços e soluções online e de cuidados remotos para enfrentar os desafios postos. Isso incluiu o uso de tecnologia para facilitar/permitir que pacientes se comunicassem com seus médicos/familiares remotamente, fizessem consultas online, recebessem diagnósticos/prescrições online, e monitorassem/autogerissem sua própria saúde para planejamento de eventuais desfechos.
Embora o telecuidado possa não substituir completamente o atendimento presencial, em alguns casos, oferece uma alternativa viável para pacientes que enfrentam barreiras como distância, mobilidade física reduzida ou falta de acesso a atendimento presencial. Além disso, o telecuidado pode ajudar a reduzir a disseminação da COVID-19 e de outras doenças, evitando que pacientes tenham que visitar consultórios e hospitais lotados. No entanto, é importante lembrar que o telecuidado tem suas limitações e pode não ser a melhor opção para todos os pacientes ou quadros de saúde. Ou seja, a escolha do tipo de atendimento deve ser discutida entre o paciente e o médico, levando em consideração o tipo de doença, o estágio de evolução, o risco de complicações, entre outros fatores. Porém, a tecnologia usada para os cuidados/monitoramento/acompanhamento remoto (ou de forma hibrida) em saúde, através da criação de aplicativos (Apps), não pode ser menosprezada e está na palma da mão. São mais de 240 milhões de Smartphones só no Brasil.
As soluções e propostas de cuidados baseadas em tecnologia, como Apps de saúde, se tornaram uma opção interessante durante a pandemia de COVID-19 e vieram para ficar. Essas soluções podem ajudar a democratizar o acesso aos cuidados de saúde, pois permitem que pacientes e profissionais de saúde se conectem facilmente, independentemente da localização física e geográfica. Além disso, essas soluções são de baixo custo e podem ser acessadas por muitas pessoas, já que a maioria das pessoas/famílias tem um smartphone. Os Apps de saúde podem ser usados para fornecer informações sobre saúde, educar pacientes sobre doenças e tratamentos, fornecer lembretes de medicamentos e compromissos médicos e monitorar a saúde. Ademais, os Apps de cuidados em saúde podem ser usados para rastrear sintomas de doenças e realizar triagem inicial, ajudando a identificar pacientes que precisam de atenção médica imediata. No entanto, é importante ressaltar que os Apps de saúde não são uma solução para todos os problemas de saúde e não substituem o atendimento médico tradicional. Eles devem ser usados como uma ferramenta complementar para melhorar o cuidado e promover a autogestão da saúde.
É importante que os pacientes discutam o uso de Apps de saúde com os profissionais de saúde, que os acompanham, para garantir que essas soluções sejam usadas de maneira segura e eficaz e sejam aprimoradas. Os Apps de saúde também podem ajudar na implementação de uma cultura de cuidados de saúde. Ou seja, inovações/soluções desta natureza podem auxiliar na implementação de uma cultura da autogestão dos cuidados em saúde bem como na criação de jornadas de mudanças de hábitos nocivos à saúde, o que se constitui em “dor da sociedade”.
Nesse contexto, há dois exemplos claros. É falado tanto em prevenção de obesidade, mas a obesidade é uma pandemia mundial e, em geral, a maioria das pessoas não tem uma boa dieta. Também é falado muito da importância da prática de atividade física, mas a maioria das pessoas têm baixos níveis de atividade física o que torna a inatividade física também uma pandemia mundial. O custo da inatividade física e seus impactos diretos/indiretos no que tange ao aumento de morbidade e mortalidade são da ordem de, segundo a OMS (2020), US$ 54 bilhões de dólares americanos em gastos em cuidados de saúde e mais US$ 14 bilhões de dólares americanos em perda de produtividade. No contexto do SUS (2019), são mais de R$ 300 milhões de gasto anual com inatividade física em diferentes regiões Brasil.
Além disso, esses fatores de risco (sobrepeso/obesidade e inatividade física/comportamentos sedentários) estão associados a um aumento do risco de desenvolver doenças crônicas, como diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares, que por sua vez aumentam o risco de complicações da COVID-19 e de outros quadros. Por isso, é fundamental que as soluções baseadas em tecnologia para promoção de hábitos saudáveis, como o uso de Apps focados no aprimoramento da QV, sejam amplamente divulgadas e utilizadas. Também, é preciso investir em políticas públicas que promovam um ambiente favorável à prática de atividade física como, por exemplo, a construção de ciclovias, parques e espaços públicos para atividades físicas, e ações de conscientização sobre a importância de bons hábitos de vida para a saúde.