Sim, o título é chamativo para que você leia até o final este texto. É obvio que com o avanço da idade ocorrem perdas de células cerebrais, os chamados neurônios. Isto nos coloca em risco do desenvolvimento de demências como a doença de Alzheimer, no longo prazo, de perda de capacidade cognitiva, memória e aprendizado. É muito provável que grande parte das perdas neuronais esteja relacionada com o desuso progressivo do hardware e software mais poderoso do mundo que é o nosso cérebro, ou seja, da falta de estímulos/desafios de aprendizagem, por exemplo. No entanto, com o passar dos anos e o investimento em aprendizado de longo prazo (life long learning) e exercício/treinamento mental, nosso cérebro ganha uma incrível capacidade de conectividade, treinabilidade e responsividade com a construção de redes neurais e sinapses sem fim como numa espécie de instalação/desinstalação de novas “funcionalidades e Apps” que é mantida todo tempo no curso de nossa vida.
Se você tem medo de estar muito velho para aprender uma nova habilidade e já falaram para você que “Não se pode ensinar truques novos a um cachorro velho” e que a mente mais velha e o “cérebro adulto grisalho” simplesmente não consegue absorver tanta informação quanto uma impressionável criança. Isto tem alguma verdade. No entanto, não precisa ser assim. Muitas pessoas acreditam que não seja possível adquirir uma habilidade complexa como ler ou escrever ou mesmo aprender um idioma novo, aos 90 anos ou mais, após uma vida inteira sendo uma pessoa analfabeta. A pesquisa mais recente da neurociência mostra que realizações extraordinárias não precisam ser a exceção em idades avançadas. Embora você possa enfrentar algumas dificuldades extras e progressivas aos 60 anos ou mais ou no extremo aos 90 anos de idade, o cérebro humano tem plasticidade e é capaz de se adaptar e tem uma capacidade surpreendente de aprender e dominar novas habilidades, independentemente da idade. O esforço para dominar uma nova habilidade pode ser mais do que recompensado em manter e melhorar a saúde mental. Os neurocientistas até usam uma palavra para descrever a adaptabilidade do cérebro – neuroplasticidade – e, à medida que envelhecemos, pensava-se que perdíamos muito dessa plasticidade e capacidade. É preciso destacar que a neuroplasticidade, também conhecida como plasticidade neuronal ou cerebral, refere-se à capacidade do sistema nervoso de mudar, adaptar-se e moldar-se a nível estrutural (hardware) e funcional (software) ao longo do desenvolvimento neuronal e quando sujeito é exposto a novas experiências de vida, tanto positivas como negativas.
No entanto, é fato que a infância, em particular, é o “período crítico e uma janela de oportunidades” para aprender. Ao final deste período de oportunidades, os circuitos do cérebro começam a se estabelecer, tornando mais difícil aprender novas habilidades complexas ao longo do tempo e da vida. Evidências convincentes para essa teoria parecem vir das dificuldades observadas para se aprender uma segunda língua. Por exemplo, crianças pequenas trazidas para residir permanentemente em um novo país parecem aprender e conseguir fluência em um idioma novo de forma mais fácil do que seus irmãos mais velhos ou pais e avós, por exemplo. Isso pode ser em parte porque as crianças simplesmente têm mais oportunidades de aprendizagem no dia a dia e apoio de escolas e colegas. Ou ainda talvez as crianças simplesmente sejam menos inibidas e repreendidas e não tenham tanto medo de cometer erros. Conforme ficamos mais velhos somos mais cobrados e as pessoas simplesmente não toleram mais erros. Isto não é bom pois, o erro quando calculado e controlado nos ajuda muito a crescer como pessoas e profissionais e pode ser muito útil em nos fazer aprender.
É preciso reforçar que não perdemos a capacidade de neuroplasticidade no curso de nossas vidas e que o estilo de vida como, por exemplo, a prática de exercício físico e uma boa dieta pode impactar neste processo. Para ilustrar a prática de exercício aeróbio (caminhada, corrida, ciclismo etc.), de no mínimo 60 minutos de duração, três vezes na semana e de intensidade moderada contribui com a neuroplasticidade do hipocampo, melhorando o córtex motor, que é responsável pela função/manutenção da capacidade de aprendizagem, memória de longo prazo e cognição com o avanço da idade. Talvez chegue o dia que com pesquisa científica descobriremos que o cérebro de 100 anos é uma das mais poderosas máquinas que existe. Imagina só se pudéssemos colocar um pendrive e salvar todos os dados e as informações no curso destes 100 anos?