Artigos

A fome e desnutrição minam a capacidade de fazer atividade física

Neste artigo mencionamos a relação entre o perverso absurdo de “passar fome … já que no mundo se produz alimentos suficientes para todos os seres humanos” … e os níveis de atividade física. Se é que é possível pensar em prática de atividade física com a famigerada barriga vazia. Esta relação é feita sob a ótica dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), propostos pela Organização das Nações Unidades (ONU). Particularmente, nosso foco será o ODS (meta) 02, ou seja, “Fome zero e agricultura sustentável”, que visa acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável.

A nutrição é chave para nosso estado geral de saúde. Por exemplo, os maus hábitos alimentares e excessos, como consumir uma dieta rica em alimentos processados e açucarados e cheios de conservantes e muitas calorias e gorduras, podem levar ao ganho de peso, aumento do risco de doenças crônicas, como doenças cardiovasculares, hipertensão, obesidade e diabetes, e diminuição do estado de saúde/qualidade de vida. Esses impactos negativos também podem encurtar o tempo de vida de uma pessoa. É importante manter uma dieta saudável (isto envolve a questão do uso de agrotóxicos na produção de alimentos pela indústria) e equilibrada, com uma variedade de alimentos ricos em nutrientes, para auxiliar no ganho de aptidão física relacionada à saúde com o passar dos anos. A nutrição adequada é essencial para manter um sistema imunológico forte e funcional. E sem dúvida, isto não só depende de quem vende os alimentos, mas também de quem os produz.

Os ODS são um conjunto de 17 metas globais adotados pela Assembleia Geral da ONU em 2015. Os ODS, são metas, que visam acabar com a pobreza, proteger o planeta e garantir a paz e a prosperidade e inclusão social para todos até 2030. Cada objetivo tem indicadores específicos que são projetados para avaliar o progresso da agenda.

Os 17 eixos de Desenvolvimento Sustentável são:

01 – Erradicação da pobreza

02 – Fome zero e agricultura sustentável

03 – Saúde e bem-estar

04 – Educação de qualidade

05 – Igualdade de gênero

06 – Água limpa e saneamento

07 – Energia limpa e acessível

08 – Trabalho decente e crescimento econômico

09 – Inovação infraestrutura

10 – Redução das desigualdades

11 – Cidades e comunidades sustentáveis

12 – Consumo e produção responsáveis

13 – Ação contra a mudança global do clima

14 – Vida na água

15 – Vida terrestre

16 – Paz, justiça e instituições eficazes

17 – Parcerias e meios de implementação

Depois de posto o cenário, vamos elucidar um pouco da relação entre a fome (no seu sentido literal, ou seja, de privação por falta de acesso) vs. o nível de atividade física. Sem dúvida passar fome é uma barreira importante para a prática de atividade física. Lembrando que a atividade física é qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos que requer gasto de energia. A atividade física refere-se a todos os movimentos, incluindo o tempo de lazer, de transporte (ir e voltar de lugares) ou parte do trabalho de uma pessoa. Ou seja, para fazer atividade física é preciso de energia e para ter energia é preciso se alimentar.

Traçando um cenário geral

Segundo a OMS, apesar de décadas de superávit global/excesso de produção de alimentos, boa parte da humanidade ainda está desnutrida e passa fome. A desnutrição/fome tornou-se um impedimento significativo para o desenvolvimento, tanto de países ricos quanto de pobres. No nível individual, tanto a fome quanto os maus hábitos alimentares reduzem a aptidão física, aumentam a suscetibilidade a doenças e diminuem a longevidade. Além disso, crianças privadas de nutrientes adequados durante o processo de crescimento e desenvolvimento podem apresentar capacidade intelectual permanentemente reduzida. A má alimentação prejudica o desempenho educacional, reduz a produtividade econômica, aumenta os custos dos cuidados de saúde e reduz o bem-estar físico e mental. Nota-se que a principal causa da fome é a pobreza e não a escassez de alimentos; bem como a falta de acesso aos bens e serviços essenciais para uma vida saudável. Por outro lado, para aqueles que têm acesso a alimentos abundantes, a ingestão alimentar inclui carnes, laticínios e itens altamente processados e carregados de gordura e açúcar. Isso leva à obesidade, uma condição que aumenta a suscetibilidade a doenças e morbidades, reduz a produtividade e diminui a expectativa de vida.

Em vista disso, os esforços para melhorar a nutrição devem se concentrar na educação em saúde, na mudança da forma de acesso aos alimentos, nas políticas voltadas para a promoção da boa nutrição e na erradicação da pobreza.

Vorster e Kruger (2007) destacam no seu estudo que a pobreza é um conceito multidimensional sendo tanto uma causa quanto uma consequência da desnutrição. Por exemplo, a desnutrição/privação de alimentos da mãe, durante a gravidez, pode levar na concepção de bebês com baixo peso ao nascer, que não apenas correm maior risco de subdesenvolvimento mental e físico, na infância e vida adulta, mas também “programados” para ter maior risco de doenças cardiovasculares e outras doenças não transmissíveis na vida adulta. O subdesenvolvimento leva à diminuição do “capital humano e competência” com uma incapacidade de criar segurança alimentar e um ambiente propício para si e para a família escaparem da pobreza e subnutrição na próxima geração. Aceita-se que a falta de educação e conhecimento dos pobres para a prevenção primária de doenças cardiovasculares por meio de padrões alimentares e estilos de vida saudáveis, bem como o acesso limitado a serviços de saúde para prevenção secundária e tratamento contribuem para doenças cardiovasculares.

Parece um contrassenso, mas a ligação entre pobreza e doenças cardiovasculares, em países africanos, pode ser explicada pela alta prevalência de desnutrição em crianças de um a nove anos (9% abaixo do peso, 23% atrofiadas e 3% emagrecidas), a alta prevalência de sobrepeso e obesidade em adultos (54,5% em homens brancos e 58,5% em mulheres africanas), bem como as tendências negativas na ingestão de nutrientes quando os africanos (o grupo populacional com o maior número de pessoas pobres) se urbanizam, aculturam e adotam padrões alimentares ocidentalizados que aumentam o risco de doenças cardiovasculares. Ou seja, é preciso uma abordagem holística, integrada, transdisciplinar e multissetorial para quebrar o círculo vicioso da pobreza e desnutrição para a prevenção a longo prazo das doenças cardiovasculares em países de alta pobreza e baixa renda.

Como a fome pode ser definida?

A fome é uma deficiência grave na ingestão calórica, ou seja, abaixo do nível necessário para manter a vida de um organismo. É considerada a forma mais extrema de desnutrição. Em humanos, a fome prolongada pode causar danos permanentes aos órgãos e, eventualmente, a morte. O termo inanição (estado em que a pessoa se encontra extremamente enfraquecida, por falta de alimentos ou por deficiência na sua assimilação) refere-se aos sintomas e efeitos da fome. Na situação de fome, o corpo direciona quaisquer nutrientes disponíveis para manter os órgãos funcionando.

São sinais e sintomas da fome:

Alterações no comportamento – Os estágios iniciais da fome afetam o estado mental. Esses sintomas aparecem como humor irritável, fadiga, dificuldade de concentração e preocupação com pensamentos alimentares. Pessoas com esses sintomas tendem a se distrair facilmente e não têm energia.

Sinais físicos – À medida que a fome progride, os sintomas físicos se manifestam e sua manifestação depende da idade e estado de saúde geral. Geralmente, leva de dias a semanas e inclui fraqueza, batimentos cardíacos acelerados, respiração superficial e lenta, sede e constipação. Também pode haver diarreia em alguns casos. Os olhos começam a afundar e a ficar vidrados. Os músculos começam a ficar menores e a perda muscular se instala por conta do catabolismo generalizado. Um sinal proeminente em crianças é uma barriga inchada. A pele se solta e fica pálida, e pode haver inchaço nos pés e tornozelos.

Imunossupressão – Os sintomas de fome também deixam as pessoas imunossuprimidas. Por exemplo, com cicatrização lenta de feridas e vulneráveis às infecções. Erupções cutâneas podem se desenvolver na pele.

Outros sinais e sintomas da fome podem incluir: Anemia, cálculos biliares, hipotensão, dor/doença no estômago, doenças cardiovasculares e respiratórias, períodos menstruais irregulares ou ausentes em mulheres (amenorreia), doença ou insuficiência renal, desequilíbrio eletrolítico e emagrecimento.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a fome é a mais grave ameaça à saúde pública mundial. A OMS também afirma que a desnutrição é de longe o maior fator para a mortalidade infantil no mundo. A desnutrição é um fator que contribui para a morte de 3,1 milhões de crianças menores de cinco anos a cada ano no mundo. Números sobre a fome real são difíceis de estabelecer, mas de acordo com a ONU, mais de 828 milhões de pessoas sofrem com a fome no mundo sendo que pelo menos 193 milhões enfrentam “fome severa”. Sem comida, os humanos geralmente morrem em cerca de 2 meses. Pessoas magras geralmente podem sobreviver com uma perda de até 18% de sua massa corporal e as com sobrepeso/obesidade podem tolerar mais, possivelmente mais de 20% de perda.

Na condição de fome, o corpo gasta mais energia do que absorve. Esse desequilíbrio pode surgir de uma ou mais condições médicas ou causas circunstanciais, que podem incluir:

Causas médicas – transtorno alimentar (bulimia, anorexia etc.), doença celíaca, coma, transtorno depressivo maior, diabetes, doença digestiva, vômito constante etc.

Causas circunstanciais – abuso de vulneráveis (crianças, idosos ou dependentes); fome por conflitos políticos e guerras e desastres naturais e/ou provocados pelo homem; jejum excessivo; pobreza; tortura etc.

Quanto a prevenção da fome, ela depende de fatores além do controle do indivíduo. Porém, envolve: aumentar a segurança alimentar, redução da pobreza, prevenção de guerras e instabilidade política, ajuda alimentar, sustentabilidade agrícola, redução da desigualdade econômica etc.

Já o tratamento, para pessoas que sofrem de fome, deve ser feito com cautela para evitar a síndrome de realimentação. Descanso e calor devem ser fornecidos e mantidos. A comida pode ser dada gradualmente em pequenas quantidades. A quantidade de comida pode ser aumentada ao longo do tempo. As proteínas podem ser administradas por via intravenosa para aumentar o nível de proteínas séricas. Para situações piores, cuidados paliativos e medicamentos podem ser usados.

A fome pode ter impacto negativo significativo na aptidão física, na saúde geral, na expectativa de vida de um indivíduo e consequentemente nos níveis de atividade física. Quando uma pessoa sente fome, seu corpo não está recebendo os nutrientes e a energia necessários para funcionar adequadamente. Isso pode levar a uma diminuição da aptidão física, pois o corpo não possui os recursos necessários para o seu melhor desempenho físico. A fome pode ter um impacto significativo nos níveis de atividade física/esforço físico. Quando uma pessoa está com fome extrema, seu corpo não tem energia suficiente para manter os níveis normais de atividade física. Isso ocorre porque a fonte primária de energia do corpo, a glicose, não está sendo reabastecida com a ingestão regular de alimentos. Nos estágios iniciais da fome, o corpo começará a quebrar o glicogênio armazenado no fígado e no tecido muscular para fornecer glicose para energia. No entanto, à medida que os estoques de glicogênio se esgotam, o corpo começa a quebrar os estoques de gordura para obter energia por meio de um processo chamado lipólise. Embora isso possa sustentar o corpo por um período, é uma fonte de energia menos eficiente e pode levar a uma sensação de fadiga e fraqueza. À medida que a atividade física aumenta, as demandas de energia do corpo também aumentam, o que pode exacerbar os efeitos da fome. Se uma pessoa continua praticando atividade física enquanto passa fome, ela pode experimentar um esgotamento adicional de seus estoques de energia, levando à exaustão e até mesmo à falência de órgãos. No geral, é importante garantir que o corpo tenha um suprimento adequado de nutrientes para suportar a atividade física/esforço físico. Em linha gerais, os principais efeitos negativos da interação entre a privação de alimentos e a prática de atividade física são:

-Desnutrição: promove sarcopenia e diminui o desempenho físico por meio da perda de massa e força muscular.

-Fome: após períodos prolongados de privação de alimentos o corpo usa as proteínas do tecido muscular como fonte de energia, o que caracteriza estado de catabolismo severo, e resulta em perda de massa muscular.

Ou seja, passar fome, além de inconcebível no mundo atual, é incompatível com a prática de atividade física.

Fontes:

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/12295983/

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17985032/

https://en.wikipedia.org/wiki/Starvation

Veja também:

Nós queremos conhecer você!

Clique no botão abaixo para que possamos entender um pouco do seu dia-a-dia e te ajudar a entender um pouco mais sobre o processo de envelhecimento saudável.
Basta preencher o formulário, são apenas 10 minutos que poderão ajudar na sua qualidade de vida.

Responder
1
Vamos conversar?
Olá 👋
Podemos te ajudar?