O ambiente urbano atual é caótico e extremamente letal para o ser humano, do ponto de vista físico e mental, já que existe um grave problema de mobilidade urbana que é potencializado pelo excesso de carros e semáforos nas ruas e poluição do ar, sonora, visual etc. Não é exagero falar que as cidades foram planejadas para receberem cada vez mais carros e não pessoas. Dirigir e atravessar ruas, especialmente no trânsito congestionado, causa diferentes tipos de estresse, muitas mortes e acidentes fatais.
É notório que o processo de envelhecimento do brasileiro não caminha de forma proporcional ao desenvolvimento de soluções para maior inclusão e segurança de pessoas idosas nas cidades, o que favorece uma série de situações que poderiam ser evitadas como, por exemplo, os acidentes de trânsito.
Por outro lado, com o envelhecimento da população há a redução do uso de carros pelas pessoas idosas, o que têm o potencial de aumentar as taxas de transporte ativo como, por exemplo, a caminhada e o uso da bicicleta. Embora haja benefícios de saúde associados a essa mudança em potencial, também há riscos mais altos de lesões e acidentes envolvendo pedestres idosos, especialmente nas travessias de rua e semáforos.
Outros pontos a destacar é que a presença de infraestrutura para ciclovias nas cidades aumentou as possibilidades de transporte ativo, mas também de acidentes entre usuários ou não de bicicletas (com ou sem motor); em bairros com altas concentrações de populações idosas, proporcionar distâncias de travessia mais curtas e/ou tempos de travessia mais longos, pode aumentar a conveniência, segurança e acessibilidade e diminuir o número de acidentes entre pessoas idosas; e o tempo de sinal mais longo deve ser garantido em locais aonde as distâncias de travessias são longas e a circulação de carros é grande, principalmente em altas velocidades.
No Brasil, a alta incidência de acidentes de trânsito que envolvem os idosos confirma essa problemática, já que a marcha mínima estipulada pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) para atravessar a rua quando o sinal encontra-se verde é de 4,3 km/h, velocidade dificilmente atingida pelos idosos, uma vez que com o processo natural de envelhecimento, a capacidade física e psicológica, capacidade funcional e mobilidade física para realizar as atividades da vida diária e aptidão física relacionada à saúde tendem a diminuir com o passar dos anos.
Os reflexos, a cognição e as capacidades visuais, auditivas, de raciocínio, de percepção, de atenção, de concentração e de mobilidade vão ficando, progressivamente, mais limitadas. Este processo acarreta a diminuição da capacidade de previsão e antecipação do risco e o aumento do tempo de reação, muitas vezes menosprezado e desconhecido pelos condutores de diferentes tipos de veículos o que favorece as colisões em veículos e pessoas.
Países como a Espanha, Grécia, Itália e Polônia já diminuíram a velocidade padrão para um mínimo de 0,7 m/s e ainda recebem críticas dos cidadãos por terem dificuldades de atravessar a rua com segurança, fato que preocupa ainda mais quando comparado ao cenário brasileiro. O estado de São Paulo possui uma reprovação de 97,8% dos idosos que frequentam as ruas paulistanas por adotar a marcha mínima de 1,1 m/s para atravessar um semáforo. Velocidade esta superior do que os países citados anteriormente – que ainda sofrem com problemas para atender as necessidades da população em constante envelhecimento e vulnerabilidade – e que denuncia a necessidade de melhor análise para benefício tanto da qualidade de vida do idoso, da rede de saúde e da estruturação inteligente da cidade que prevê a cada dia um maior número de pessoas maiores de 60 anos. Sendo assim, promover a deslocação e mobilidade urbana e física do idoso com segurança na cidade é benéfico para a saúde e estimula a interação social e com as cidades e cria um cenário de “cidade amiga do idoso”.
Todos os fatores que prejudicam a mobilidade física e urbana de idosos conduzem à perda de autonomia e da qualidade de vida e impactam na economia. Como fazer girar a economia se é perigoso pôr o pé na rua?