Artigos

Atletas transgênero: Qual é a visão da ciência da área?

Sexo e gênero são conceitos diferentes. Sexo refere-se às diferenças biológicas entre machos e fêmeas, incluindo cromossomos, hormônios e características sexuais primárias e secundárias. Por outro lado, gênero é uma construção social que se refere às características, papéis, comportamentos e expectativas associadas a homens e mulheres em uma determinada cultura ou sociedade. Gênero pode ser visto como um espectro, com muitas identidades e expressões diferentes além de homem e mulher. É importante reconhecer a distinção entre sexo e gênero para entender a diversidade humana e combater a discriminação com base na identidade de gênero.

Por exemplo, do ponto de vista anatômico e fisiológico, os homens têm alavancas de membros mais longas, ossos mais fortes, maior massa e força muscular e maior capacidade cardiovascular. As mulheres exibem menos percepção de fadiga muscular e recuperação mais rápida durante o exercício de resistência aeróbia. Diferenças fisiológicas, baseadas no sexo e traçando uma linha histórica, conduziram a uma diferença média de desempenho físico de 10%, que permaneceu estável desde a década de 1980 do século XX. A disparidade de desempenho físico é menor para natação e maior para eventos de atletismo. Atualmente, o Comitê Olímpico Internacional (COI) exige que atletas femininas com diferenças de desenvolvimento sexual ou características intersexuais e atletas transgêneros limitem sua testosterona sanguínea <10 nmol/L por 12 meses para serem elegíveis para competição na classificação feminina.

Antes de iniciar pelo fato de os eventuais leitores deste artigo não estarem familiarizados com as terminologias da área, vamos normatizar alguns conceitos:

Identidade de gênero: o senso interno de identidade de uma pessoa e como elas se encaixam no mundo. A identidade de gênero é diferente de orientação sexual e é diferente do sexo atribuído no nascimento. A orientação sexual é também conhecida como preferência sexual.

Sexo: historicamente, o termo “sexo” foi usado para se referir ao sexo atribuído ao nascimento, com base na avaliação da genitália externa, bem como pelos cromossomos e gônadas. Esse sistema de classificação binário, em que as pessoas são classificadas como macho ou fêmea com base em suas características biológicas, tem sido amplamente utilizado em muitas sociedades ao longo da história. No entanto, é importante notar que esse sistema não é absoluto e que há casos em que as características biológicas não se enquadram claramente nas categorias binárias de macho ou fêmea. Além disso, a compreensão do conceito de sexo evoluiu ao longo do tempo e hoje é reconhecido que existem mais variações biológicas do que apenas macho e fêmea, como intersexualidade e diferenças cromossômicas.

Transgênero: a definição de pessoa transgênero é aquela que tem uma identidade de gênero que difere do sexo atribuído no nascimento. Isso significa que uma pessoa trans pode ter sido designada como macho ou fêmea ao nascer, mas sua identidade de gênero é diferente. Por exemplo, uma pessoa transgênero designada como masculina ao nascer pode se identificar como mulher e vice-versa. É importante destacar que a identidade de gênero é uma experiência subjetiva e pessoal, e que cada pessoa tem o direito de identificar-se da forma que se sentir mais confortável e autêntica. A abreviação “trans” é frequentemente usada como um termo mais curto para descrever pessoas transgênero.

Homem transgênero: alguém com identidade sexual masculina e o sexo feminino atribuído quando do nascimento.

Mulher transgênero: alguém com identidade sexual feminina e o sexo masculino atribuído quando do nascimento.

Cisgênero: Uma pessoa não transgênero (cis, mesmo lado em latim).

Atletas transexuais são pessoas transgênero que participam de esportes. No entanto, é importante notar que as políticas de inclusão de atletas transgênero variam de acordo com as organizações esportivas e as modalidades esportivas em questão. Algumas organizações permitem que atletas transgênero participem em competições de acordo com sua identidade de gênero, enquanto outras têm regras mais restritivas em relação ao sexo biológico ou exigem que as pessoas transgênero passem por tratamentos hormonais ou cirurgias para participar em competições de acordo com sua identidade de gênero. O debate em torno da inclusão de atletas transgênero no esporte continua em andamento, e há diversas perspectivas e opiniões sobre o assunto.

Por uma variedade de fatores sociais, muitos atletas transexuais não têm uma experiência positiva no esporte e quanto mais jovem o atleta, mais desafiador se torna criar regras inclusivas. Ainda há desafios em tornar as regras de competição justas para que atletas transgêneros participem do esporte. A questão da inclusão de atletas transexuais no esporte de elite é complexa e envolve considerações científicas, éticas e sociais. É importante reconhecer que a inclusão é um valor fundamental em uma sociedade progressista e justa, mas também é importante garantir que a competição seja justa para todos os atletas envolvidos.

A ciência sugere que mulheres trans têm vantagens fisiológicas em relação às mulheres cis devido aos níveis relativamente altos de testosterona e à fisiologia masculina anterior. Isso pode criar desafios para garantir que as competições sejam justas para todas as atletas envolvidas. No entanto, é importante reconhecer que nem todas as mulheres trans têm essas vantagens, e que existem variações individuais na fisiologia de cada pessoa.

Há um debate crescente sobre se as atletas trans devem ser incluídas na competição feminina de elite. A maioria dos esportes de elite é dividida em divisões masculinas e femininas devido ao maior desempenho atlético exibido pelos homens. Sem a divisão sexual, as mulheres teriam poucas chances de vitória porque os homens são mais rápidos, mais fortes e têm maior capacidade de resistência. A fisiologia masculina sustenta seu melhor desempenho atlético, incluindo aumento da massa e força muscular, ossos mais fortes, estrutura esquelética diferente, sistemas cardiorrespiratórios melhor adaptados e efeitos de desenvolvimento precoce nas redes cerebrais que conectam os homens a serem inerentemente mais competitivos e agressivos.

A testosterona secretada antes do nascimento, após o nascimento e depois da puberdade é o principal fator que impulsiona essas diferenças fisiológicas entre os sexos e, quando adultos, os níveis de testosterona são dez a quinze vezes maiores nos homens do que nas mulheres. As faixas não sobrepostas de testosterona entre os sexos levaram os reguladores esportivos, como o COI, a usar 10 nmol/L de testosterona como único parâmetro fisiológico para dividir as divisões esportivas masculina e feminina. Usar os níveis de testosterona como base para separar atletas de elite masculinos e femininos é discutível. A fisiologia masculina não pode ser reformulada pela terapia de estrogênio em atletas trans porque a testosterona gerou efeitos permanentes por meio da exposição no início da vida. Em última análise, a anterior fisiologia masculina de atletas trans mulheres lhes dá uma vantagem fisiológica sobre a atleta cis mulher. Da mesma forma, homens trans podem estar em desvantagem em relação aos homens cis em termos de força e massa muscular, o que pode afetar sua capacidade de competir em categorias masculinas.

Nesse contexto, a proposta de substituir o binário de gênero no esporte de elite por um algoritmo diferenciado que leve em conta parâmetros fisiológicos e sociais é uma ideia interessante que pode ajudar a garantir a justiça nas competições. No entanto, é importante que qualquer algoritmo proposto seja baseado em evidências científicas robustas e seja aplicado de maneira justa e imparcial a todos os atletas.

Além disso, é importante lembrar que a inclusão de atletas transexuais no esporte de elite não deve ser vista como uma questão isolada, mas sim como parte de um esforço mais amplo para promover a igualdade e a inclusão em todos os aspectos da vida. Transgêneros são frequentemente estigmatizados e sofrem discriminação em ambientes de saúde, levando a piores resultados de saúde mental e necessidades não atendidas em comparação com pares heterossexuais e cisgêneros. Portanto, é imperativo que os provedores de saúde mental considerem e enfrentem os desafios estruturais para reduzir as desigualdades em saúde mental dessa população. Isso inclui garantir o acesso de pessoas trans a cuidados de saúde adequados, educação e oportunidades de emprego, bem como combater a discriminação e o preconceito na sociedade em geral.

Veja também:

Nós queremos conhecer você!

Clique no botão abaixo para que possamos entender um pouco do seu dia-a-dia e te ajudar a entender um pouco mais sobre o processo de envelhecimento saudável.
Basta preencher o formulário, são apenas 10 minutos que poderão ajudar na sua qualidade de vida.

Responder
1
Vamos conversar?
Olá 👋
Podemos te ajudar?